domingo, 13 de abril de 2008

"Tá certo que ela não tinha mais idade pra ganhar presente de dia das crianças, né?, mas não era bem dia das crianças, nem era outubro ainda, e ela não ligava mais pra esse tipo de coisa, afinal, mesmo que fosse dia 12 de outubro, ela poderia ganhar um presente sem ser presente de dia das crianças, entende? Então ela deixou a vergonha de lado e pegou o pacote nas mãos da tia. Um pacote lindo, todo colorido, em tons de roxo, lilás, e branco, com um laço cor-de-rosa, bem feminino, dava pra sentir que era um livro. Sorriu, - é um livro, tia? A tia fez que sim com a cabeça. A guria adorava ganhar livros, abriu depressa o pacote, passou várias vezes a mãozinha na capa, como quem quisesse sentir devagarzinho a essência do livro com as pontas dos dedos e absorver todo o conteúdo com a palma da mão. A capa era simples, meio bege, meio creme, e o nome do autor estava bem no meio, escrito mais escuro e com textura diferente. Novidade pra ela, não conhecia o autor. - Tia, o livro não tem nome? Não conheço esse autor...E a tia explicou que o nome do livro era o nome do autor e que ela não conhecia porque pouquíssimas pessoas tinham esse livro, só três ou quatro no mundo inteiro. O rostinho da menina se iluminou num sorriso bem sincero e pueril. Deu um beijo na tia, agradeceu e se trancou no quarto. O livro não era pra criança, nem pra adulto, era pra pessoas especiais como ela. Não era novo, dava pra perceber umas marquinhas, mas também não era muito velho, era do tempo certo. Não era grande, nem pequeno, era do tamanho exato e com quantos assuntos ela quisesse. Camila era curiosa, tudo pra ela era novidade, queria saber e não tinha vergonha de perguntar, e o livro contava, dava mil exemplos, fazia piadinhas e desenhos coloridos, tudo com muito zelo, pra que a menina entendesse, sempre preservando a rara capacidade que ela ainda tinha de se espantar com as coisas. A guria só saía do quarto para ir ao colégio, estava completamente encantada pelo livro, a cada palavra um espanto bom. O interesse da menina era grande e a paciência (e prazer) do livro era enorme, então demorou um ano e meio pra ler tudo. Quando acabou, ela se sentiu muito sozinha, infinitamente triste e sem saber se tinha mesmo aproveitado tudo que o livro podia oferecer, pensou em ler de novo, mas não era mais a mesma coisa - a tia esquecera de avisar que é um livro pra ler uma vez só. Depois de um tempo, Camila começou a refletir sobre as coisas que aprendera e concluiu que tinha que guardar todas as histórias, exemplos, desenhos e piadinhas do livro no coração e doá-lo pra Biblioteca Municipal, assim outras pessoas teriam oportunidade de lê-lo e ela teria mais espaço na estante para um novo livro."

Depois de quase um ano, Camila voltou na Biblioteca Municial e pegou o livro de volta, pra sempre!

3 comentários:

Anônimo disse...

Esse foi um dos primeiros textos (se não o primeiro) em que eu comentei. :*

Unknown disse...

aaaaaaaaaaaaaaaaaahahahhahahahahahahahahahahahahahahahahah
ELA ROUBOU O LIVRO! ELA ROUBOU O LIVRO DE UMA BIBLIOTECA PÚBLICA!
aaaahahahhaahjsdhjkdsfhjkdshfkjdshksjhfkjsdhfkdhfjkdhfjkshfkjsdhfjkdshfjkhfjkdshfjdshfskjdhfksdhfsdkjfhjdkshfskdjhfskjdhfskdf
tiuputiuputiupu
(fala a verdade...ela aprendeu esse tipo de coisa, roubar livros na biblioteca publica, em alguma págica do proprio livro, ne? ahahahhaha)

Cris Moreira disse...

Ehehehehehehe, tu nem precisava republicar o post inteiro. Bastava dizer que tu subiu pela Riachuelo, passou por alguns sebos e, não encontrando, continuou mais um pouco até a Biblioteca. E depois de pegar o livro de volta, passou ali no Café do Theatro, pra admirar a vista e a bela literatura!